CRISE: A primeira reação sempre é a negação

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Em um de seus mais belos romances, O Sol também se levanta, o escritor norte-americano Ernest Hemingway relata o seguinte diálogo entre dois personagens: “‘Como você foi à falência?’, perguntou Bill. ‘De duas formas’, disse Mike. ‘Aos poucos, e então de repente’”.

É exatamente assim que acontece: a situação se deteriora de forma gradativa e, de supetão, mostra-se insustentável. No entanto, se nos primeiros sinais de queda no desempenho a empresa procura ajuda – via de regra – os planos de recuperação tornam-se bem sucedidos e custam metade da energia e dos gastos que a empresa teria se seguisse ignorando os sintomas.

Infelizmente essa não é uma realidade!

O mais comum é que as empresas busquem ajuda quando já existe pouca margem de manobra, pouco poder de barganha com fornecedores e pouco ou – na maioria dos casos – nenhum crédito. Neste caso o tempo é inimigo e cada dia se torna exponencial para o agravamento da crise, tornando o processo mais difícil e doloroso.

Em conversas com empresários dos mais diversos segmentos do mercado percebe-se um comportamento padrão. A primeira reação sempre é a da negação. O envolvimento emocional com a empresa não lhes permite enxergar e admitir os problemas. Apaixonados pelo negócio, acreditam que a única solução é a entrada de recurso financeiro.

Esse é um dos mitos aos quais os empresários em dificuldades financeiras se apegam. Um novo aporte de capital ou empréstimo, pensam, resolve o problema. Não resolve. É o primeiro dinheiro a sumir, porque as causas que levaram ao declínio continuam consumindo os recursos.

Entendo que pela própria essência do empreendedor, ele não desiste facilmente, mas passa a viver – perigosamente – da expectativa, e não da realidade. Não é uma projeção, é apenas uma expectativa sem base real.

Buscar ajuda para recuperar ou melhorar a performance de uma empresa não é nenhum demérito para o empresário, tão pouco para sua equipe de gestão. É muito importante que o gestor reconheça que a empresa está passando por uma crise, e que será necessário rever certas atitudes para a superar o momento difícil.

Quando os primeiros sinais de problemas financeiros ou mesmo de queda no volume de negócios ocorrem, as causas devem ser tratadas de imediato e nesse momento uma ajuda externa, sem envolvimento emocional com a organização, pode tratar o problema na raiz e de uma vez por todas.

O processo de transformação de uma empresa requer precisão cirúrgica no diagnóstico, determinação férrea na execução e resistência de aço para enfrentar as profundas mudanças na organização.

Em muitos casos não há segunda chance!

Ismael Santos – Consultor de Reestruturação de Empresas na Resultadus Reestruturação e Performance